Fundada há apenas 29 anos, a maranhense Açailândia presenciou o que há de mais predatório na Amazônia. Sua madeira de lei foi contrabandeada para o Sudeste e o que sobrou de suas florestas, reduzidas a cinzas.
A riqueza do comércio ilegal ficou longe da cidade, constituída em sua maior parte por favelas. Esse cenário está ficando para trás no município, que foi incluído entre as cidades médias no ano passado. O poeirão ainda tinge suas paredes, mas a ilegalidade vem cedendo espaço a siderúrgicas de ferro-gusa, que trouxeram a riqueza da mão-de-obra especializada para a cidade.
Sua prosperidade atraiu empresas de outros ramos. Nos seus campos, instalaram-se fazendas a partir das quais o maior rebanho de gado do Maranhão abastece um setor nascente delaticínios. As mudanças permitiram que a jovem Açailândia alcançasse a maior renda per capta do Maranhão, à frente da capital, a secular São Luís.
Histórias como a do mineiro José Melgaço Chaves, de 57 anos, simbolizam o progresso local. Nos anos 80, ele montou uma assistência técnica de motosserras. Em 1998, quando seu negócio perdia fôlego, mudou para a criação de gado leiteiro. Em 2005, Melgaço abriu uma indústria e envia semanalmente 10 toneladas de queijos para São Paulo.
Se o caso de Melgaço exemplifica a transformação econômica do município, o de Cleonice Monteiro, de 47 anos, mostra a metamorfose na sociedade. Há dezessete anos, ela inaugurou a Barbara Bella, butique que atende as mais ricas de Açailândia.
Em 1998, começou a vender jeans a R$ 500 para uma clientela cada vez mais exigente. Suas freguesas moram não só em Açailândia, como em trinta outras cidades vizinhas. As moradoras de todas elas acorrem a Açailândia para adquirir produtos mais refinados, receber atendimentos médico, estudar ou fazer cursos profissionalizantes nas escolas técnicas do município.
Por: Júlia Medeiros, Revista Veja
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